V Capítulo "Noite à volta da fogueira" parte II


-Haha, deixa-me adivinhar, depois os elfos vieram com o seu potinho de ouro cheio de bolachinhas com recheio de arco-íris… – provocou Cyrus, interrompendo a sensação de terror que se estampou na cara das miúdas. Em especial a Kyra, que grudou-se ao Scorpio.
- Qual é a graça?
- Vá lá, pessoal! Não há historias mais horripilantes que esta? Ainda por cima mal contada. Brian acabou por hoje. Da próxima sugiro que contem algo sobre o Freddie Krueger ou do Jack O Estripador.
O tal de Brian sentiu-se tão ofendido, que baixou o entusiasmo, voltando para o seu lugar. Espetou o seu marshmallow em um galho e aproximou-o do lume apertou os seus joelhos contra o peito, abraçando-os com outro braço. Faltava-lhe só chorar, e isso seria pouco improvável, sabendo que ele estava entre os mais novos do grupo.

- Que desmancha-prazeres que és, Cyrus. – bufou Scorpio.
- Se me dão licença, vou me recolher. – levantou-se indiferentemente foi em direcção à sua tenda sem dizer mais nenhuma palavra. As pessoas questionaram-se o que teria acontecido, enquanto que uma rapariga com ponytails sentava-se justo a Brian e tentava acalmar-lhe e animar-lhe de alguma forma.
Levantei-me e corri atrás dele. O que ele tinha, assim de súbito? Enfiei a cabeça na tenda e o vi deitado junto com Seth que estava a jogar PSP. Os dois irmãos pareciam preocupados com algo.

- Cyrus, o que aconteceu?
- Não quero falar disso.
- E quanto a ti, Seth?
- Não queiras saber, acredita.
- Oh, não acredito que estão assim por causa de uma historiazinha infantil como essa.
- VAI-TE EMBORA, THELMA! NÃO VÊS QUE ESTAMOS BEM?!
Fiquei chocada com a quantidade da fúria que estava nas palavras de Seth, o que me abalou muito. Pensei que ele era uma pessoa serena. Uma pessoa diferente, que me compreenda. Porém, Cyrus parecia concordar com o que ele dizia. Não tinha mais nada a dizer. Fui para a minha tenda
deitei-me, com a cabeça de fora, olhando para a lua e as estrelas que me rodeavam. Sentia-me tão distante como elas. Sentia-me de novo a uma distância de anos-luz da humanidade. Simplesmente não havia encaixe.

- Talvez deva ir ter com o pessoal à fogueira. Já devem ter mudado de assunto, espero eu. – pensei, embora não me tenha levantado. Deixei-me ficar por lá, procurando alguma solução para os outros dias, que ía ficar por lá. Reflectia no nosso acampamento, que mais parecia ser uma colónia. Umas trinta pessoas por lá e me sentia tão sozinha como numa cidade fantasma. Prendi o olhar na fogueira que se via ao longe, o pessoal já estava mais animado após o sucedido. Que seja. Levantei-me e fui ter com eles.

V Capítulo "Noite à volta da fogueira" parte I

Já nas alturas seis pernas balançavam alegremente no mesmo ramo. Por sorte, era grosso e forte o suficiente para aguentar a nós três. Afinal consegui subir até uma altura que alcançava o Seth.
- Isto é lindo… - suspirei com os olhos na paisagem.
- Vais ver muita coisa com os irmãos Dorian, Thelminha.
- Pffffff… – gracejou Cyrus. - Poupa-me, Seth!
Já devia estar pelas três da tarde, o sol já estava a tocar no cume das montanhas no horizonte. E a paisagem tinha uma gama de cores quentes e suaves.
Ao longe eu podia avistar o Rio Burned, e a norte o acampamento, já estavam a levar os planadores para guardar. Já estava calor. É como se estivéssemos dentro de uma estufa, porque a temperatura era arrebatadora. E veio-me uma ideia brilhante á cabeça.
- Que tal reunir-mos algumas pessoas e
irmos dar um mergulho no rio?
Os dois viraram-se para mim perplexos com os olhos brilhantes.
- És um génio, Thelma!!!!
- Há… não sou nada... Mas vocês realmente não têm calor?
- É como se lesses a nossa mente. Estava a pensar se podia encontrar um glaciar por aqui. Está mesmo calor. Talvez chova daqui a uns dias...
- Então do que estamos à espera? Vamos lá molhar as cabeças! – O Cyrus terminou com um ágil descer da árvore, deslizando pelos ramos abaixo.
Senti-me perdida, não tinha reparado muito o quanto eu subi, e a cabeça já andava à roda. O medo tomou conta de mim.
- Seth… ajuda-me…por favor….
- Hey, rapariga! Que é isso? Os teus olhos estão às voltas! Vá lá, respira fundo. Agarra-te nas minhas costas.

Obedeci cegamente, mesmo que isso não foi uma ordem. Pendurei-me nas costas fortes de Seth e senti-me grudada a seu corpo, de tanto medo que tinha nesse momento.
Mal pus os pés no chão, sentei-me.
- Thelma? O que foi?
- Ela deve ter problemas com alturas…
A reconfortante voz dos rapazes me fez melhor. Porque isso tinha que acontecer agora? Sou mesmo uma bebé! Tenho medo de alturas, sim. Mas nunca disse isso a ninguém. Se eu dissesse… seria o meu fim. Temo ainda mais de alguém dizer algo a respeito. Por isso senti-me super envergonhada com o que o Seth disse. Embora a minha postura foi mesmo evidente.
Voltei a mim, depois de uns cinco minutos. E os rapazes puderam levar-me à minha bicicleta.
- Consegues fazer isso.
- Se não puderes, não o faças. O rio pode ficar para amanhã.
- Não se preocupem comigo, rapazes. Obrigada. Vocês são uns queridos. Mas acho melhor eu aguentar-me em pé.
- Não precisas fazer isso. Podemos ir a pé, o acampamento é apenas a um quilómetro daqui.
- Ok, como queiram meus cavalheiros.
O caminho foi mais breve do que eu pensava. Mas eles tinham razão. Eu estava tonta e não podia subir na bicicleta nesse estado. Seria o mesmo que ficar para trás. Chegado ao acampamento reparei no grupo sentado em um circulo, com alguém a atear a fogueira e Kyra vindo ao meu encontro.
- Oh, my God! Thelma! Onde estiveram? Ela está ferida? Alguma coisa aconteceu???
- Calma, Kyra. Estou óptima! Estivemos a trepar árvores.
E vi o terror nos olhos dela.

- Não devias, Thelma! Sabes disso…é perigoso. Podes cair ou… – disse-me quase inaudívelmente mas com atitude. Ela sabia. E nem foi preciso contar. E eu detestava isso.
Passamos a noite a volta da fogueira, a contar histórias. Os mais velhos preferiam histórias de terror. Eu fiquei apenas por ouvir. Não tinha nada para contar mesmo…
- Então ela correu para a clareira da floresta, tentando ter uma visão mais ampla do seu atacante. Ela virou-se o viu…!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!! VIU O QUÊ?
- Ela viu que era o terrível monstro da floresta que segue o cheiro das meninas indefesas e inocentes que se atrevem a encarar o escuro da noite selvagem.

- E como era esse… monstro? – perguntei sem demoras.
- Era enorme!!! Tinha 2 metros de altura os seus cascos eram fortes e reflectiam o brilho da lua e das estrelas. A sua pele era forte e grossa, quase impenetrável. E quanto mais escuro fica, mais cruel ele e. Quando começa a clarear ele toma as suas presas e leva-as para onde ninguém jamais pode ir…! Porem, ele pode ser capturado e morto. Apenas lhe de um tiro numa noite de lua cheia com duas balas de aço.