V Capítulo "Noite à volta da fogueira" parte I

Já nas alturas seis pernas balançavam alegremente no mesmo ramo. Por sorte, era grosso e forte o suficiente para aguentar a nós três. Afinal consegui subir até uma altura que alcançava o Seth.
- Isto é lindo… - suspirei com os olhos na paisagem.
- Vais ver muita coisa com os irmãos Dorian, Thelminha.
- Pffffff… – gracejou Cyrus. - Poupa-me, Seth!
Já devia estar pelas três da tarde, o sol já estava a tocar no cume das montanhas no horizonte. E a paisagem tinha uma gama de cores quentes e suaves.
Ao longe eu podia avistar o Rio Burned, e a norte o acampamento, já estavam a levar os planadores para guardar. Já estava calor. É como se estivéssemos dentro de uma estufa, porque a temperatura era arrebatadora. E veio-me uma ideia brilhante á cabeça.
- Que tal reunir-mos algumas pessoas e
irmos dar um mergulho no rio?
Os dois viraram-se para mim perplexos com os olhos brilhantes.
- És um génio, Thelma!!!!
- Há… não sou nada... Mas vocês realmente não têm calor?
- É como se lesses a nossa mente. Estava a pensar se podia encontrar um glaciar por aqui. Está mesmo calor. Talvez chova daqui a uns dias...
- Então do que estamos à espera? Vamos lá molhar as cabeças! – O Cyrus terminou com um ágil descer da árvore, deslizando pelos ramos abaixo.
Senti-me perdida, não tinha reparado muito o quanto eu subi, e a cabeça já andava à roda. O medo tomou conta de mim.
- Seth… ajuda-me…por favor….
- Hey, rapariga! Que é isso? Os teus olhos estão às voltas! Vá lá, respira fundo. Agarra-te nas minhas costas.

Obedeci cegamente, mesmo que isso não foi uma ordem. Pendurei-me nas costas fortes de Seth e senti-me grudada a seu corpo, de tanto medo que tinha nesse momento.
Mal pus os pés no chão, sentei-me.
- Thelma? O que foi?
- Ela deve ter problemas com alturas…
A reconfortante voz dos rapazes me fez melhor. Porque isso tinha que acontecer agora? Sou mesmo uma bebé! Tenho medo de alturas, sim. Mas nunca disse isso a ninguém. Se eu dissesse… seria o meu fim. Temo ainda mais de alguém dizer algo a respeito. Por isso senti-me super envergonhada com o que o Seth disse. Embora a minha postura foi mesmo evidente.
Voltei a mim, depois de uns cinco minutos. E os rapazes puderam levar-me à minha bicicleta.
- Consegues fazer isso.
- Se não puderes, não o faças. O rio pode ficar para amanhã.
- Não se preocupem comigo, rapazes. Obrigada. Vocês são uns queridos. Mas acho melhor eu aguentar-me em pé.
- Não precisas fazer isso. Podemos ir a pé, o acampamento é apenas a um quilómetro daqui.
- Ok, como queiram meus cavalheiros.
O caminho foi mais breve do que eu pensava. Mas eles tinham razão. Eu estava tonta e não podia subir na bicicleta nesse estado. Seria o mesmo que ficar para trás. Chegado ao acampamento reparei no grupo sentado em um circulo, com alguém a atear a fogueira e Kyra vindo ao meu encontro.
- Oh, my God! Thelma! Onde estiveram? Ela está ferida? Alguma coisa aconteceu???
- Calma, Kyra. Estou óptima! Estivemos a trepar árvores.
E vi o terror nos olhos dela.

- Não devias, Thelma! Sabes disso…é perigoso. Podes cair ou… – disse-me quase inaudívelmente mas com atitude. Ela sabia. E nem foi preciso contar. E eu detestava isso.
Passamos a noite a volta da fogueira, a contar histórias. Os mais velhos preferiam histórias de terror. Eu fiquei apenas por ouvir. Não tinha nada para contar mesmo…
- Então ela correu para a clareira da floresta, tentando ter uma visão mais ampla do seu atacante. Ela virou-se o viu…!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!! VIU O QUÊ?
- Ela viu que era o terrível monstro da floresta que segue o cheiro das meninas indefesas e inocentes que se atrevem a encarar o escuro da noite selvagem.

- E como era esse… monstro? – perguntei sem demoras.
- Era enorme!!! Tinha 2 metros de altura os seus cascos eram fortes e reflectiam o brilho da lua e das estrelas. A sua pele era forte e grossa, quase impenetrável. E quanto mais escuro fica, mais cruel ele e. Quando começa a clarear ele toma as suas presas e leva-as para onde ninguém jamais pode ir…! Porem, ele pode ser capturado e morto. Apenas lhe de um tiro numa noite de lua cheia com duas balas de aço.

IV Capítulo "O ciclista e o trepador de árvores" parte III

Quando estive a descansar na relva, depois do almoço, reparei que alguém estava muito desaparecido durante todo o passeio até aquela hora. Eu tinha que fazer algo, mesmo que ele está tão entretido a ouvir o seu leitor de música nos escutadores parecia estranho e mas chamava-me atenção. Eu inspirei fundo e fui falar com ele. “Sê corajosa…”, pensei.

- O dia está a se bom para ti?
- Dan-da-du-dim-da-du-dam… - cantarolou.
- Hey, estas a ouvir-me? – disse-lhe alto quase gritando, que até que algumas pessoas assustaram-se, e acenando-lhe na frente com a mão.

- Oh, desculpa, estavas aí… é que eu não ouvi, desculpa… – atrapalhado, afagou o seu cabelo preto espetado, virando-se para mim. – Estavas assim há tanto tempo?
- Ah, não… imagina! - disse-lhe entre risos. – Já nos vimos antes?
Ah, que pateta!!! Que pergunta é essa?
- Eu te vi no carro.
- Eu também.
Que reposta estúpida. Mas que raio de conversa é essa? Tenho de me inverter na acção.
- Aaaaaaaaaaaaaaaah… – meditei nervosamente, procurando como obrigar com que a minha língua se movesse porque que eu devia falar agora… definitivamente! – Desculpa, mas eu te vi mais cedo…
- Eu também. – disse-me forçando a seriedade.
- Estás a gozar comigo? – gritei histericamente, são insuportáveis as conversas com palavras como “eu também”.
- O que queiras que eu faça se eu realmente te vi de manhã a passear o teu cão?
- Hum, agora diz-me… estavas a espionar-me ou quê?
- Achas que tenho cara de um agente secreto?
- Agora já não, Cyrus.
- Ah, sabes o meu nome…
- Não estamos apresentados mas já ouvi te chamarem assim.
- E eu não devia saber o teu nome?
- Thelma, Thelma Black. – disse apertando-lhe a mão, como saudação.
A conversa estava bastante animada, entre risos até que…
- Vamos dar uma volta de bicicleta?
- Eu não sei… eu vou procurar o Seth.
- Fixe, vamos então procurá-lo.
Levantamo-nos, apanhamos as nossas bicicletas e fomos a pedalar entrando na floresta que me pareceu encantadora. Seguimos o caminho que fazia a trilha por debaixo das árvores. As árvores pareciam correr contra nós bem rápido.
- Onde é que achas é que ele pode estar?
- Ele prefere as árvores mais altas e com base larga.
- Também sobes às árvores com ele?
- Sim, ele adora se exibir, mas como se exibir quando não se tem público? Ele é o maior exibicionista que eu já conheci… Mas apesar disso continuo a o achar fixe.
Aceleramos pela trilha até chegar a uma zona mais fechada.
- Acho que agora temos de ir a pé. – lancei um longo suspiro.
- Ah, a senhorita já está cansada?! – gozou Cyrus. – Ainda temos que andar mais quilómetros a pé…
- Muito engraçadinho. Mas acho que não é preciso… – retorqui olhando para uma bicicleta prateada encostada numa árvore. Automaticamente olhei para cima.
Seth estava sentado de frente para o sol que estava brilhante, assistindo andorinhas a fazer rodas nas alturas. Numa pose mesmo confortável, a ouvir música nos seus auriculares. Cyrus e eu gritámos por ele, para ver se nos ouvia. Assustado e virou-se para nós, do alto das árvores.
- Thelma!!! Cyrus!!! Assim é que assustam as pessoas?
- Seth! Estás louco? – gritei-lhe para cima.
- Eu?! Porque essa pergunta?
- Vamos subir? – perguntou-me Cyrus.
- ‘Tás a brincar! É… muito alto… - sussurrei diminuindo o tom de voz, até não se ouvir nada.
- Falo sério. Eu te ajudo, confia em mim.
- Eu não passo dos três metros, ouviste?
- Ok. Mas avisa-me se mudares de ideias.
Agarrei no ramo mais baixo que vi e pus um pé em cima. Continuei a subir. Cyrus já estava bem em cima. Não podia competir. Seth continuava a balançar-se ao zumbido dos auriculares, e a rir-se de nós. Ou melhor… de mim!

Even a Monday can be perfect