Puxei pela trela do Shelby e pus-me a andar atrás do rapaz. Comparando com as minhas pernas com a sua “mega bicicleta” era provável que não chegaria a ele nem a correr. Ele virou uma esquina e eu o perdi de vista. As casas eras quase todas brancas e mesmo que a luz do sol era pouca ofuscava a minha visão. Fechei os olhos e podia lembrar-me da sua bela cara morena com o cabelo negro a balançar no vento, e a pedalar a bicicleta. Quando abri os olhos Shelby corria como o vento e latia.
Que estupidez…O que deu em mim para me distrair tanto? Já podia ouvir latidos da outra esquina. Podia contar que ele já tinha alcançado a bicicleta. Corri para o lugar para o observar melhor, mas ele já estava a entrar por entre as árvores do bosque, e quanto ao cão, estava no parque, um parque onde eu costumava brincar quando pequena, Schelby esteve o tempo todo a perseguir um esquilo, que nesse momento estava abrigado numa árvore a observar o predador com os olhos esbugalhados e cheios de pânico. Suspirei profundamente e olhei para o céu.Agarrei no meu cão, e fui para casa. Já estava na hora do acampamento, e eu ainda tinha que apanhar a minha mochila.
Chegada em casa, fui buscar um copo de chocolate quente, que me podia dar energia para uma boa parte da manhã de acampamento e finalmente caí no sofá, tentando recuperar o fôlego e matutando qual é a daquele sujeito. Que falta de moral, que ignorância de perseguir gente. E ainda fugir com fotografias. Eu estava fora de si, era insuportável pensar que alguém esteja com a minha imagem e o que iria fazer com ela. A minha mãe desceu as escadas. Já estava bem acordada e com um bom humor.
- Bom dia, Thelminha!
- Bom dia… mãe. – balbuciei ainda tentando perceber se não era ilusão. Cheguei até a engasgar-me com o chocolate que levemente aquecia as minhas mãos. – Que bom que acordaste. O dia está lindo lá fora.
- Perfeito! Já não via a luz do sol a uns dias…
- Não achas que seria melhor se saíssemos… quer dizer, eu vou acampar com a malta…
- Fico feliz por ti! Então… eu e a Elyon vamos à cidade, às compras.
Ela perecia mesmo feliz, desde que o pai lhe levou para jantar fora, nunca a vi tão feliz assim, como agora. As faces dela estavam rosadas de alegria e os seus olhos brilhavam como as estrelas que eu observei na noite passada. Os meus pensamentos foram interrompidos por uma buzina do lado de fora da casa. Era a Kyra e os seus amigos, que eu iria conhecer logo.
- São eles mãe! – beijei-lhe a face e ela de seguida beijou-me a testa. – Te vejo depois.
- Diverte-te. Boa sorte.
Apanhei a mochila e a minha bicicleta e parti para fora de casa felicíssima. A Kyra me esperava na sua pickup prateada no banco passageiro da frente. E adivinha quem conduzia. Scorpio, o seu namorado, podia reparar nas características que ela me deu ontem à noite. Era bastante sensual como me disse, mas muito pomposo. Estava ali como se estivesse a posar para a capa de alguma revista.
- Hello, gorgeous! – saudou-me Kyra. – Estava a oitenta e cinco porcento certa que vinhas.
- E porquê não os outros quinze?
- A tua mãe… mas pelos vistos, ela acordou muito bem-disposta.
- Ah… Como é que sabes?
- Ela está aí na porta a acenar para ti. – Kyra avisou-me enquanto acenava á minha mãe.
Ri-me, e coloquei a minha bela bicicleta para trás da pickup junto com as motos do casal, era necessário levar as motos e bicicletas consigo porque a floresta era quase a uns duzentos quilómetros. Entrei no carro, e acomodei-me nos bancos de trás, mas antes de poder relaxar por completo Kyra virou-se para trás, assim como Scorpio.
- Oh, sorry! Esqueci. Este é o Scorpio, se é que já sabes.
- Eu já adivinhava…
- Prazer em conhecer-te. – falou ele, ou melhor… declarou com a sua voz estonteante. Logo de seguida Kyra beijou-lhe a face.
- És irresistível!
Fiquei meio constrangida naquele momento, por estar no mesmo carro que eles. O carro arrancou, e ao mesmo tempo o meu estômago virou ao avesso. Na rádio tocava um rock bem romântico, e esquisito, eu nunca tinha ouvido uma música desta antes, mas depois reconheci as vozes da música. O Scorpio e a Kyra cantavam juntos. Eram uma banda. Eles pareciam muito apaixonados, mas era muito incomodativo, muito… meloso… muito…
- Kyra, os rapazes também vão, não é? – perguntou Scorpio.
- Sim, por isso não te esqueças da próxima curva à esquerda.
Era de esperar… não iria ficar aí toda confortável nos bancos de trás por muito tempo. Uns dez segundos no máximo.
O carro parou na frente de uma casa laranja com trepadeiras a cobrir o portão alto. Da porta do portão saíram dois rapazes com um estilo bem selvagem. Mas fiquei boquiaberta quando vi que um deles tinha o cabelo espetado e levava uma bicicleta de montanha com ele. Era o rapaz da bicicleta que eu tinha visto!... Ele pôs a sua bicicleta junto com as outras, enquanto o seu companheiro entrava no carro e assentava-se no mesmo banco que eu. O seu amigo tinha uma estatura média, os cabelos cor de chocolate que por pouco tocavam-lhe os ombros e uma cara de um adolescente que sabe aproveitar a vida. Muito feliz com uma sanduíche na mão. (...)